segunda-feira, 12 de julho de 2010

"Vale mais que um trocado"

Eu os avistei de longe e imaginei que aguardavam o semáforo fechar para atravessar a avenida, talvez estivessem indo atrás de um mandado carregado, talvez caído no parque. 

Vermelho.

O corinthiano segurava uma lata de linha, menos de um tubão. Da dupla, foi ele quem tomou à frente:
- Tio, me dá uma moeda.
Inclinei a cabeça procurando já respondendo:
- Não tenho.

Na porta do passageiro, um dos livros favoritos do meu filho, O pobre corinthiano careca. 
- Amor, pega aí.

Quando voltei, não o vi, olhei pra trás, ele já estava no terceiro carro. Apressei aquele que o acompanhava, temendo que o farol abrisse:
- Chama o corinthiano, chama o corinthiano.
- Márcio, vem aqui, tá te chamando.

Ele correu, se aproximou. Ignorei o verde:
- Sabe ler?
- Sei.
- O que está escrito aí?
- O pobre corinthiano careca, respondeu sorrindo.
- É seu. 

Engatei a primeira e vi pelo retrovisor  o começar de uma boa leitura.


Não foi ideia minha. A atitude me ocorreu depois de ler esta reportagem.

E o único problema foi convencer o dono do livro de que doá-lo a outra criança foi algo bom.


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