Éramos bárbaros, com requintes de cumplicidade
Você nem queria, eu ia
Eu nem chamava, tú vinha
Mesmo quando era preciso atravessar a cidade
Não queria outra companhia
amigo melhor era você
O Junin ainda muito menino
a Lê tava mais pra Mortícia da TV
Cê vai tomar banho de piscina
põe qualquer roupa e vambora pro Metrô
Não posso esquecer de emprestar pro tio
Chauí e Chalita, devolver Nietzsche e Foucault
Clássicos inspiravam paródias
Éramos bravos em nossas composições
De tanto rir, nem conseguíamos
cantar aquelas hilárias canções
Criatividade inabalável
até na escadaria do Municipal
Pessoa estranha por nós era zuada
e era zuada também se fosse normal
Nada modernos, comédia pastelão
do centro à favela
Quando crescer,
cê vai vender tampinha, Rodriguela
Na verdade, a família inteira brincava
inspirada na Dona Lurde
Jamais trocamos isso
por pipa, peão, bolinha de gude
Quando em casa
montávamos cabana
cabo de vassoura, lençol
aquela ponta, prende na ventana
Vamos pro Jardim São Paulo
se você faltar na escola
Amanda fica com você
então cabula e esquece a bola
Lembra aquele dia?
O campeonato de penalti...
Um banho de mangueira pro vencedor
pra refrescar a tarde quente
E a treta por causa da bolacha
Lembra dessa vez?
Brigaram com a gente
porque no pacote ficou só três
Não dá pra reclamar
Não era do melhor, mas era bom
De quando em quando até rolava
uma lata de Neston
Mas se penso em fartura
logo o tio Amaro me vem
Casa e coração
onde cabe um, cabe cem
E como tudo que nos fez bem
tão logo se foi
deixando lembrança e uma lição:
dê nome ao boi!
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